O que é um resumo?
Produzimos resumos desde muito cedo. Eles fazem parte da rotina de todo o estudante, integram o nosso dia-a-dia, na reconstituição das nossas experiências pessoais e profissionais.
Mas talvez seja para a produção de atividades acadêmicas que mais nos socorremos do significado e da estrutura de um resumo. 
Antes de ingressar na concepção específica de resumo no contexto dos processos de mediação e conciliação, convém apresentar algumas definições genéricas que facilitarão a introdução do tema.
Segundo Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, resumir é apresentar, de forma concisa, uma síntese, de natureza informacional, do conteúdo de um documento, e se destina a permitir que o leitor avalie o valor ou o interesse do documento, sem necessidade da leitura do original.
Um resumo, para essa finalidade, tem uma estrutura mínima de pontos relevantes. Ele deve apresentar o tema e os objetivos da pesquisa, a partir de um problema, a metodologia de tratamento desse problema, os argumentos principais e a solução encontrada pelo autor do documento.
Qual a relação dessas descrições com as atividades do mediador e do conciliador? 
Esse conceito é aplicável às audiências?
Na essência, o conceito se aplica, embora, no processo de mediação/conciliação, ao contrário do que ocorre com a linguagem científica, o resumo não seja neutro. 
Na mediação/conciliação comparamos o resumo, como técnica, a uma sumarização retrospectiva positiva, ou a um parafraseio. Técnica que indica ao mediador/conciliador a conveniência, em determinados momentos do processo, de repetir o que cada um falou, recontando a história com ênfase nos pontos positivos. Ouvir a própria história por meio de outra pessoa conduz os interessados a reflexões, com a abertura do leque de opções de solução dirigida a outras perspectivas. O parafraseio deve ser cauteloso para não parecer arremedo (BACELLAR, 2003, pg.198).
Para que o conflito seja adequadamente tratado e haja compromisso com as eventuais soluções, estas devem ser construídas a partir das questões apresentadas nas falas dos próprios interessados – que integrarão a pauta.
O resumo pode fazer com que os interessados, ouvindo de um terceiro (mediador/conciliador) o que falaram, visualizem pontos comuns que serão enfatizados positivamente no resumo, além de cada uma das demais questões que a partir de suas falas, emergiram como pontos importantes que integrarão a pauta na sequência do processo (audiência sessão, conversa ou do diálogo).
Um resumo é intencionalmente produzido de forma a auxiliar os interessados a perceber interesses comuns, possibilidades de crescimento, oportunidades e questões que os interessados destacaram como relevantes ou simplesmente pertinentes para o avanço das negociações.
O resumo pode se dar de forma parcial – logo após a fala de cada um dos interessados ou unificada após a fala de todos. Sempre que possível o resumo único as duas falas é recomendável, algumas vezes, entretanto, a forma de resumo parcial pode ser necessária quando os ânimos estão exaltados e transparece a necessidade de melhorar a comunicação.
Ao longo do processo de mediação, é possível que em mais de um momento, o mediador considere importante fazer sínteses das falas dos interessados, na busca de objetivar as questões que precisam ser tratadas ou ao final de uma sessão rememorando o que foi tratado. Sempre será importante o resumo quando se tratar de várias sessões: ao final para checar os avanços na própria sessão e ao início da posterior para que se resgatem os avanços ocorridos nas conversas anteriores e se evitem retrocessos. 
O resumo, como síntese, porém, tem uma especial função: buscar e trazer à luz, através do discurso, as convergências que tenham surgido nas falas dos interessados, por menores que possam ter sido ou parecido ser. Esta busca de sintonia abre caminho para a despolarização das falas, para a construção de uma atitude mais cooperativa, e para que os reais interesses e necessidades, que começaram a ser identificados durante a escuta atenta inicial, possam, aos poucos, emergir para serem tratados de forma objetiva. São esses interesses e necessidades que, investigados mais profundamente ao longo do processo, precisam ser trazidos, de maneira precisa, através do trabalho de escuta e costura, desenvolvido pelo mediador.
E como se constrói um bom resumo?
É com a experiência que você desenvolverá a sua própria fórmula, mas algumas habilidades e certos cuidados são fundamentais:
Um bom resumo começa na escuta ativa do mediador e entre os interessados. Portanto, na fase anterior (a fase da reunião de informações), fique atento às falas, às reações e aos estados emocionais, demonstre empatia, estimule os interessados a falar e a se escutar. Evite interromper as falas. Essa fase ainda não será a da investigação mais profunda; assim, tenha cuidado ao formular perguntas. Você poderá fazê-las, para confirmar dados ou trazer esclarecimentos importantes. Desaconselha-se buscar muitos detalhes. 
Lembre-se de que as declarações iniciais tendem a trazer posições aparentemente inconciliáveis e que neste momento inicial as manifestações podem ser um pouco mais intensas e emocionais, porém são necessárias. Garantir a fala e a escuta respeitosa traz relaxamento e confiança no processo da mediação.
Agora vamos ao resumo. Resumir, em mediação, não é um procedimento inocente. Ao fazê-lo, usando, dentre outras técnicas, o parafraseamento, procure reconstituir as narrativas retirando adjetivos e julgamentos, reformulando as frases, com o cuidado, porém, de não alterar seu conteúdo original. Pode ser útil utilizar algumas expressões escolhidas pelos interessados, em seus relatos iniciais, inclusive para que eles se percebam na construção do discurso, sentindo-se verdadeiramente ouvidos. 
Evite o uso de palavras ou expressões acusatórias, defensivas ou que polarizem. Filtre a agressividade.
Você poderá partir das convergências que foram identificadas nas falas iniciais, procurando reunir as versões em uma só história. Alguns exemplos de abordagem: “Bom, vamos ver se eu compreendi o que vocês disseram até agora...vocês mencionaram que... É exatamente isso que compreendi?” “Há mais alguma questão que seja importante e que talvez eu não tenha mencionado?”
Neste caminho, sempre que possível, procure trazer à luz os reais interesses que emergiram das falas dos interessados, pois, na grande parte das vezes, os pedidos formulados em juízo (lide processual) não traduzem as suas necessidades efetivas, nem seus reais interesses. O foco nestas questões permite que os interessados comecem a enxergar de forma prospectiva para o conflito e para o que precisa ser feito.
Procure separar as pessoas do problema, ao reconstituir fatos, evitando qualquer julgamento, em sua narrativa, sobre as atitudes dos interessados. Não busque culpados. Parta do pressuposto de que conflitos são naturais nas relações humanas e procure fazer com que os interessados assim percebam e que não tenham vergonha de terem chegado àquele ponto. Trata-se da chamada “normalização no conflito”.
Decomponha o problema, quando for necessário e possível, para que se visualize a possibilidade de tratamento de alguns pontos, separadamente, ainda que o todo seja aparentemente insolúvel. Assim, mesmo o problema mais complexo começa a se apresentar de forma mais “tratável”. 
Ao final, peça a cada interessado, que confirme se os fatos são aqueles.
Um bom resumo das narrativas permite identificar as questões que realmente precisam ser debatidas para o tratamento do conflito. É através dele que o mediador identificará as questões e construirá a pauta, juntamente com os interessados, selecionando os pontos a serem conversados e planejando o processo de mediação. A partir daí, avançará o mediador/conciliador com uma espécie agenda de trabalho flexível, em que se procura delimitar algumas questões que possam ser tratadas de maneira mais aprofundada, para que o conflito se resolva.
Falamos, até aqui, da construção do resumo e da pauta.
A depender da qualidade de comunicação alcançada até este momento, você poderá decidir se prossegue nas etapas seguintes, aprofundando as questões e interesses identificados, e abrindo o caminho para a formulação de opções, ou se será necessário partir para reuniões individuais com os interessados (sessões privadas ou caucus).
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Tania. Caixa de ferramentas em mediação: aportes práticos e teóricos. São Paulo : Dash, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: resumos. Rio de Janeiro: ABNT. 2003.
AZEVEDO, André Gomma (org.). Manual de Mediação Judicial. 6 ed. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2016. 
BACELLAR, Roberto Portugal. Juizados especiais: a nova mediação paraprocessual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003.
FISHER, Roger. Como chegar ao sim: negociação de acordos sem concessões/ Roger Fisher, Willian Ury & Bruce Patton; tradução Vera Ribeiro & Ana Luíza Borges. 2ª. ed. revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1999.
LAKATOS, E.; MARCONI, M.A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1986.

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